João Neutzling Jr.
Minha amada imortal
Por João Neutzling Jr.
Economista, mestre em Educação, auditor estadual, pesquisador e professor
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Poucos compositores da música clássica tiveram uma vida tão exitosa e ao mesmo tempo misteriosa quanto o alemão Ludwig von Beethoven. Nascido em Bonn em 17 de dezembro de 1770 (há 252 anos), desde jovem demonstrou talento e gosto pela música erudita. Conseguiu transitar do classicismo para o romantismo na música compondo nove sinfonias, sonatas, oratórios e óperas entre dezenas de outras peças (138 no total).
A terceira sinfonia, a Heroica (1804), foi dedicada a Napoleão Bonaparte e, no seu segundo movimento, Adágio em dó menor, apresenta um fundo musical como ilustrando o fim da batalha com a marcha de retorno dos soldados.
Uma de suas obras mais significativas é a Quinta sinfonia em dó menor (aquela do Tããnnn Tããnn Tããñn Tããñn), concluída em 1808. Nesta obra, o movimento inicial significa "a morte" batendo três vezes na porta chamando-lhe e avisando da finitude da vida. Sua interpretação é uma misto de desespero e angústia onde fagotes, trompas, flautas e oboés conduzem o ouvinte em um passeio repleto de emoções. A obra foi apresentada pela primeira vez em 22 de dezembro de 1808 em Viena, causando enorme impacto e admiração na plateia.
Porém, Beethoven iria surpreender a todos quando apresentou sua magnun opus: a Nona sinfonia em ré menor, que foi dedicada ao rei Frederico Guilherme III da Prússia.
Sua estreia foi em 7 de maio de 1824 em Viena, na Áustria. Pela primeira vez na história um coral atuava junto com uma orquestra sinfônica a partir do quarto movimento da sinfonia onde foi cantado o poema Ode à alegria, do poeta alemão Friedrich Schiller. Na plateia, a nata da aristocracia vienense: barões, condes, baronesas, viscondes, a rica elite europeia, etc. Todos assistiam de boca aberta, estarrecidos com lágrimas nos olhos, tamanha grandiosidade artística onde se mesclava a poesia e a música pela primeira vez. No movimento que antecedia o coral, o conjunto de violoncelos, violinos, fagotes e oboés iam lentamente elevando o tom em um crescente que termina em êxtase onde o coral iniciava sua apresentação. No trecho principal se cantava (em alemão):
"Alegria, formosa centelha divina,
Filha do Elíseo,
Ébrios de fogo entramos
Em teu santuário celeste!
Tua magia volta a unir".
Beethoven, sentado ao lado do maestro, apenas sorria e não escutou sua sinfonia, pois estava completamente surdo. A composição se tornou tão famosa que o maestro Herbert V. Karajan fez uma adaptação para ela se tornar o hino da União Europeia. Uma das mais bonitas apresentações desta obra foi com a Orquestra Sinfônica de Chicago em 2014, com regência do maestro Riccardo Muti, principalmente pelo coral de 210 vozes.
No filme Minha amada imortal (1994), dirigido por Bernard Rose, é retratada a vida do compositor citando um suposto testamento onde deixava toda sua herança para uma amada imortal que nunca se comprovou. Beethoven nunca casou e nunca teve filhos. Morreu em 23 de março de 1827 (aos 56 anos) de uma doença desconhecida. No seu velório, mais de 30 mil vienenses estiveram presentes. Sua obra sempre foi impregnada de ideais de fraternidade, humanismo, amor pela natureza e concórdia entre as nações.
Cento e noventa e cinco anos de sua morte e com sete bilhões de habitantes, o planeta ainda não conseguiu ver nascer um gênio como ele.
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